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Colaborador: Vitor Mascarenhas Vieira

A presença de resíduos orgânicos insolúveis em fibras têxteis e superfícies porosas é um desafio contínuo para o setor de limpeza. Entre esses resíduos, estão partículas de celulose, como poeira, fibras vegetais e microrganismos com parede celular celulósica (fungos, algas e biofilmes). Para atuar nesse cenário, as celulases oferecem uma solução biotecnológica poderosa e sustentável, com aplicações que vão desde o tratamento de tecidos até a remoção de sujeiras ocultas em superfícies porosas.

O que são celulases?

Celulases (EC 3.2.1.4) são enzimas da classe das glicosidases, responsáveis por hidrolisar a celulose, o principal polímero estrutural de origem vegetal. A celulose é composta por longas cadeias de glicose unidas por ligações β-1,4-glicosídicas, difíceis de quebrar por métodos convencionais.

As celulases quebram essas cadeias em moléculas menores:

– Celobiose
– Glicose

Essa degradação facilita a remoção de partículas aderidas, suaviza fibras têxteis e elimina resíduos vegetais microscópicos.

Tipos e mecanismo de ação

Celulases comerciais geralmente são compostas por um complexo enzimático sinérgico:

Esse trabalho conjunto permite uma degradação eficiente da celulose em diversos contextos de limpeza.

Parâmetros Ideais das Celulases em Produtos de Limpeza

Aplicações em Produtos de Limpeza

As celulases são amplamente utilizadas em:

Detergentes lava-roupas:

– Remoção de microfibras e sujeiras embebidas em tecidos;
– Evita o acinzentamento de roupas claras;
– Restaura o toque e o brilho de roupas desgastadas;
– Reduz a formação de bolinhas (pilling) em tecidos de algodão.

Limpeza hospitalar e industrial:

– Quebra de biofilmes de origem vegetal ou fúngica;
– Aplicações em superfícies que acumulam matéria orgânica invisível.

Pré-lavagens enzimáticas para tecidos reutilizáveis:

(como uniformes e EPIs contaminados com material orgânico).

Sinergia com outros ingredientes

Celulases funcionam melhor em conjunto com:

– Tensoativos não iônicos, que reduzem a tensão superficial e expõem a celulose;

– Proteases, que removem proteínas aderidas;

– Amilases, para remoção de amidos e sujeiras alimentares.

Estudos mostram que detergentes enzimáticos contendo celulases têm até 25% mais eficácia na remoção de sujeiras embebidas em tecidos de algodão, além de prolongar sua vida útil.

Limitações e cuidados

Instabilidade em pH muito alto ou na presença de oxidantes fortes;
Possibilidade de alergia ocupacional (em forma de pó concentrado);
Desempenho reduzido em tecidos sintéticos (não celulósicos).

Essas limitações são mitigadas com:

Formulações tamponadas;
Encapsulamento enzimático;
Uso em combinação com coadjuvantes bioativos, como biossurfactantes.

Sustentabilidade e benefícios ambientais

-Reduzem a necessidade de temperaturas altas e lavagem intensa;

-Diminuem o uso de abrasivos químicos, preservando tecidos e superfícies;

-São biodegradáveis e produzidas por fermentação microbiana;

-Facilitam a economia de água e energia nos ciclos de lavagem.

Além disso, as celulases de nova geração vêm sendo desenvolvidas por meio de engenharia genética para maior estabilidade térmica e resistência a pH, ampliando seu uso em formulações mais robustas.

Conclusão

As celulases representam uma tecnologia enzimática avançada e versátil no setor de limpeza. Elas não apenas removem sujeiras invisíveis, como restauram tecidos, reduzem desgaste e elevam o padrão de higienização — tudo isso com menor impacto ambiental.

Sua inclusão em detergentes e produtos de manutenção não é apenas uma tendência, mas uma resposta inteligente à demanda por limpeza profunda, eficiente e sustentável.

Glossário:

Abrasivos Químicos: Substâncias químicas corrosivas ou irritantes usadas para remover sujeira por atrito.
Acinzentamento de Roupas Claras: Perda da brancura original dos tecidos claros devido ao acúmulo de partículas e resíduos.
Algas: Organismos fotossintéticos aquáticos com parede celular celulósica.
Alergia Ocupacional: Reação alérgica desenvolvida devido à exposição a substâncias no ambiente de trabalho.
Amilases: Enzimas que catalisam a quebra de amido e outros carboidratos.
Biofilmes: Comunidades complexas de microrganismos aderidos a uma superfície, frequentemente envoltos em uma matriz extracelular.
Biossurfactantes: Tensoativos produzidos por microrganismos, utilizados como coadjuvantes em formulações de limpeza.
β-glicosidases: Tipo de celulase que transforma oligossacarídeos de celulose em glicose.
Celobiose: Dissacarídeo (açúcar composto por duas unidades de glicose) resultante da quebra da celulose.
Celulose: Principal polímero estrutural das plantas, composto por longas cadeias de glicose unidas por ligações β-1,4-glicosídicas.
Celulases: Classe de enzimas glicosidases que hidrolisam a celulose.
Coadjuvantes Bioativos: Substâncias de origem biológica que auxiliam na ação dos ingredientes principais em uma formulação.
Complexo Enzimático Sinérgico: Mistura de diferentes enzimas que atuam juntas de forma mais eficiente do que individualmente.
Detergentes Lava-Roupas: Produtos de limpeza para lavar tecidos.
EC 3.2.1.4: Classificação numérica das celulases na Nomenclatura de Enzimas.
Embebidas (Sujeiras): Sujeiras que penetraram profundamente nas fibras do tecido.
Encapsulamento Enzimático: Técnica de envolver enzimas em materiais protetores para aumentar sua estabilidade e controlar sua liberação.
Endoglucanases: Tipo de celulase que corta internamente as cadeias de celulose.
Engenharia Genética: Manipulação do material genético de organismos para modificar suas características, como a produção de enzimas mais estáveis.
EPIs (Equipamentos de Proteção Individual): Vestimentas e acessórios utilizados para proteger os trabalhadores de riscos ocupacionais.
Exoglucanases: Tipo de celulase que quebra as extremidades das cadeias de celulose.
Fibras Amorfas: Regiões da celulose com estrutura menos organizada.
Fibras Cristalinas: Regiões da celulose com estrutura altamente organizada e resistente.
Fibras Têxteis: Filamentos finos utilizados na fabricação de tecidos.
Fibras Vegetais: Componentes estruturais das plantas, compostos principalmente por celulose.
Formulações Tamponadas: Produtos com sistemas que ajudam a manter o pH estável.
Fungos: Reino de organismos eucarióticos, alguns dos quais possuem parede celular celulósica.
Glicosidases: Classe de enzimas que hidrolisam ligações glicosídicas (que unem açúcares).
Glicose: Monossacarídeo (açúcar simples) resultante da quebra da celulose.
Higienização: Processo de limpeza que visa reduzir o número de microrganismos a níveis seguros.
Hidrolisar: Quebrar uma molécula pela adição de água.
Instabilidade: Falta de estabilidade ou tendência a se decompor ou perder a atividade.
Limpeza Hospitalar e Industrial: Processos de limpeza em ambientes de saúde e indústrias.
Matéria Orgânica Invisível: Resíduos de origem biológica que não são facilmente visíveis a olho nu.
Microfibras: Fibras muito finas que se soltam dos tecidos durante o uso e a lavagem.
Microrganismos com Parede Celular Celulósica: Organismos microscópicos cuja estrutura celular externa contém celulose.
Oligossacarídeos: Carboidratos com um pequeno número de unidades de açúcar ligadas.
Pilling: Formação de pequenas bolinhas ou nós de fibras na superfície de tecidos.
Poeira: Partículas finas de sujeira, que podem conter fibras vegetais.
Polímero Estrutural: Macromolécula que fornece suporte e estrutura aos organismos.
Pré-lavagens Enzimáticas: Etapas de lavagem iniciais que utilizam enzimas para soltar a sujeira antes da lavagem principal.
Proteases: Enzimas que catalisam a quebra de proteínas.
Quelantes: Agentes que se ligam a íons metálicos, inativando-os.
Resíduos Orgânicos Insolúveis: Materiais de origem biológica que não se dissolvem em água.
Restaura o Toque e o Brilho: Devolve a maciez e a luminosidade aos tecidos.
Setor de Limpeza: Indústria relacionada a produtos e serviços de limpeza.
Sinergia: Ação conjunta de dois ou mais componentes que resulta em um efeito maior do que a soma de seus efeitos individuais.
Sujeiras Embebidas: Ver “Embebidas (Sujeiras)”.
Sujeiras Ocultas: Sujeiras que não são facilmente visíveis.
Superfícies Porosas: Materiais com pequenos orifícios que podem reter sujeira.
Sustentável: Que causa o mínimo impacto ambiental e pode ser mantido a longo prazo.
Tecidos de Algodão: Materiais feitos de fibras de algodão, que são compostas principalmente por celulose.
Tecidos Reutilizáveis: Materiais têxteis que podem ser usados várias vezes após a lavagem.
Tecidos Sintéticos: Materiais feitos de fibras produzidas artificialmente, que geralmente não contêm celulose.
Tensoativos Não Iônicos: Substâncias que reduzem a tensão superficial da água e não possuem carga elétrica.
Tratamento de Tecidos: Processos para melhorar as propriedades dos materiais têxteis.
Uniforme: Vestimenta padrão utilizada por funcionários de uma empresa ou instituição.